Quando
chegaste, com o teu passo leve e o teu sorriso malandro, toda a minha alma se
iluminou. Como acontece, aliás, dia após dia, mesmo quando o sorriso é
substituído por má disposição.
Porque
preciso ver esses teus olhos de azeitona para o meu dia começar e o meu coração
se encher de novo de doces sentimentos.
E,
no entanto, há dias, quando chegaste, trazias um ar tímido incomum em ti, o
eterno descarado. Estranhei-o, mas nada disse. O habitual café matinal foi
atípico, parecia que não tinhas sobre o que falar. Até que, abruptamente, como
quem arranca um penso rápido, me disseste que ias morar com uma rapariga.
Alguém de quem nunca me falaras e que ocupou na tua vida o lugar que eu tanto
ambicionava, mas que sempre me faltou a coragem de arriscar tentar conquistar.
Fiz-me
de forte e dei-te os parabéns com um sorriso, enquanto a minha alma chorava em
silêncio. Também nada mais disseste, embora se perceba, pelo modo como me
contaste, que terás alguma noção do que sinto por ti, mas disfarçaste-o, o que
muito apreciei.
Nessa
noite, sozinha, chorei até me secarem as lágrimas e não conseguir derramar nem
mais uma, apesar de ter tantas ainda por chorar.
Enquanto
que nos dias anteriores deixavas em mim a cada dia um pouquinho mais desses
sentimentos, nesse dia levaste a minha alma toda. Fiquei vazia, porque percebi
que a minha alma é toda tua e tu não a queres, é algo que é inútil para ti, e
para mim também, porque se não estou contigo, sou um corpo vazio, preenchido
apenas por um sentimento que dói e fere, mas ao mesmo tempo é doce e cheio de
ilusões.
Por
isso anseio por cada vez que chegas, para tornar a viver!