“A casa é sempre o centro e o sentido do
mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo.” *
O problema é encontrar A casa. Porque passamos toda a vida a procura
dela, à procura do ponto onde tudo faz sentido, onde percebemos tudo. E vamos
encontrando casas onde algumas coisas fazem sentido. Outras que são centros de
algo, mas não de tudo. Outras ainda onde se vão percebendo coisas.
Mas essa, onde tudo nos é percetível, essa é a eterna miragem, aquela que
perseguimos dia após dia.
Vivemos na ânsia de querer perceber tudo, quando muitas vezes não
conseguimos sequer perceber-nos a nós próprios. O maior mistério da nossa vida
somos nós próprios, andamos a tentar perceber o mundo sem percebermos quem
somos, porque somos assim e o que nos leva a agir de determinada maneira, às
vezes sempre da mesma forma apesar de querermos mudar tanta coisa e caímos
sempre nos mesmos erros, nos mesmos atos, no mesmo modo de pensar.
Sim, a casa é o sentido do mundo, mas A casa não é mais que o nosso
próprio coração ou alma, como quisermos interpretar. E é preciso entrarmos bem
fundo dentro da nossa casa, com coragem, determinação e lanterna de mineiro
para efetivamente conseguirmos ver o sentido do nosso mundo e percebe-lo todo.
Porque é um exercício tão duro, tão intrinsecamente doloroso, o escavar nas
nossas memórias e sentimentos, para percebermos às vezes apenas um bocadinho do
nosso centro.
Mas com esforço e dedicação, sim, conseguimos perceber o sentido do nosso
mundo e somos o centro dele, não de uma forma egoísta, mas porque é à nossa
volta que o mundo existe e não podemos entender o mundo sem nos entendermos
primeiro.
* Al Berto, in “Entrevista à
revista Ler (1989)”