05/09/2016

O Pintor

Quantas tonalidades de azul tem o céu? Ou um pôr do sol junto ao mar?
Cores que diríamos irreproduzíveis, se não as víssemos sair da paleta de Artur para os seus magníficos quadros.
Olhando para ele, ninguém diria que havia ali um excelente artista. De segunda a sexta, das nove às seis, Artur anotava encomendas, emitia faturas, registava documentos, era um pacífico e competente empregado de escritório.
Nas horas livres, transformava-se no pintor, que colocava no papel misturas de cores que reproduziam de forma quase fotográfica as paisagens que via.
Numas férias, Artur ia diariamente pintar para a Foz. O mar era o seu tema favorito. Reparou, porém, numa presença constante na esplanada próxima, uma mulher, morena, de ar sereno, que sempre exibia um sorriso gentil aos empregados de café. Já não era nenhuma menininha, mas assumia-o de forma natural no seu porte e forma de vestir.
Impulsivamente, Artur começou um novo quadro, reproduzindo lentamente, ao longo de vários dias, aquela figura tão bela.
Um dia, sentiu que alguém parou atrás de si a observar. Era comum, mas se a pessoa não metesse conversa, Artur fingia não notar.
Logo de seguida, apercebeu-se que uma amiga se aproximava da sua musa, falando excitadamente. Viu a mulher, sempre tão serena, corar profundamente e olhar para ele com ar espantado.
Apercebeu-se nesse momento de que o que fizera podia ser considerado abusivo, pelo que retirou a folha do seu caderno e dirigiu-se à esplanada. Estendeu-a à modelo inesperada, dizendo:
- Peço desculpa, não a devia ter pintado sem lhe pedir autorização. Foi um abuso da minha parte.
A mulher olhou para a pintura e devolveu-lha:
- Não assinou a sua obra.
Artur fê-lo rapidamente, voltando a entrega-la.
- Muito prazer, Artur – disse ela, estendendo-lhe a mão. – O meu nome é Clara e esta é a minha amiga Joana. Já tinha visto as suas pinturas do mar e do pôr do sol, fiquei sempre impressionada. Por favor, sente-se e tome qualquer coisa connosco.
Corando ligeiramente, Artur concordou e sentou-se.

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