14/11/2016

O carrossel

A vida é um carrossel, que gira e gira, e tem os bonecos que sobem e descem ao som da música. Quando entrei no carrossel, ambicionava um lugar numa das chaveninhas floridas, ou no unicórnio cor de rosa, ou até mesmo numa girafa.
Mas neste carrossel não se pode escolher o lugar e o que me calhou foi um burrinho desconjuntado, já sem uma orelha, que nem subia nem descia, mas abanava por todos os lados, tornando a viagem desconfortável e assustadora. Tão instável que volta e meia caía do burrinho e tinha que andar aos tombos pelo meio do carrossel, à procura de um lugar, mas o único que encontrava era sempre o burrinho, para o qual tinha cada vez mais medo de subir, porque sabia que por mais que me agarrasse, mais cedo ou mais tarde ele ia voltar a atirar-me ao chão.
Numa volta mais rápida, fui projetada para fora do carrossel. Não sei como aconteceu, só sei que de repente estava no chão, fora do carrossel, tentando desesperadamente recuperar o folego. Quando consegui pôr-me de pé, fiquei parada a ver o carrossel girar. Girava tão rápido que só de olhar me punha tonta, quanto mais conseguir saltar de novo lá para dentro. Além disso, não via nenhum lugar para mim, nem sequer o burrinho desconjuntado. Toda a gente parecia divertir-se no carrossel, mas eu nunca me divertira, com tanta queda do burrinho! Então, sentei-me do lado de fora, a ver o carrossel girar e a tentar decidir o quanto queria voltar lá para dentro e como o iria fazer. E o tempo foi passando e o carrossel continuava a girar, indiferente à minha ausência. Ninguém parava o carrossel para eu voltar a entrar, pelo que percebi que teria que ganhar coragem e saltar lá para dentro. Ainda estou à espera dela.